30 mai a 5 jun 2022
residência de criação
Centro de Artes Performativas do Algarve CAPa

holobionte, ou o princípio canibal
Camilla Morello e Maria Inês Marques
Portugal
co-criação e interpretação Camilla Morello e Maria Inês Marques
espaço cénico e adereços Anabela Moreira
execução de cenografia Cristóvão Neto
desenho de luz Tiago Silva
sonoplastia e música Rui Lima e Sérgio Martins
vídeo Fábio Coelho
consultoria científica Ana Corrêa
produção executiva Mário Sarmento Oliveira
coordenação técnica Luísa Osório
produção Plataforma UMA
apoio a residências artísticas Campus Paulo Cunha e Silva (Teatro Municipal do Porto), DeVIR/CAPa, Circolando, Companhia Instável
parceiro institucional Universidade do Porto
projeto apoiado pela República Portuguesa | Direção Geral das Artes
Holobionte (substantivo masculino): organismo hospedeiro que funciona graças a um sistema de simboses integrados com múltiplos agentes, entre eles bactérias, fungos, etc.
a relação entre mãe e filho/a/x foi, durante séculos, representada como uma ligação naturalmente afetiva por discursos culturais e religiosos de matriz antopocêntrica, que idealizam a experiência humana da maternidade e sublimam o “instinto maternal”, numa perspectiva explicitamente especista. Neste contexto, a imagem da Madonna com a criança ao colo tornou-se um ícone da da tradição judaico-cristã que contem um conjunto de pressupostos morais sobre a maternidade, intimamente ligados à família nuclear heteronormativa, como modelo de organização social predominante. Estudos recentes no campo da genética e da biologia evolutiva, vieram a revelar que a convivência entre progenitora e feto humanxs é, à semelhança de outras espécies tudo menos pacífica. São vários os processos bioquímicos à escala celular que não só tornam possível a reprodução, mas que moldam, desde as primeiras etapas do desenvolvimento do embrião, uma gestação tensa e negociada, uma espécie de “destructive business” fágica que inevitavelmente transforma o território invadido que é o corpo gestante. Por outro lado, teorias pioneiras de Lynn Margulis e James Lovelock (entre outros) sobre a omnipresença da simbiose e da cooperação nos ecossistemas terrestres abrem perspectivas radicalmente integracionistas e não-hierárquicas sobre o próprio corpo grávido, enquanto mais um exemplo de Holobionte – sistema complexo e integrado de relações entre múltiplos seres vivos.
Holobionte, ou o Princípio Canibal, é uma instalação-performace multimédia e interespécie para espaços não convencionais que convoca estas recentes descobertas científicas e um universo sci-fi feminista para resgatar a relação entre progenitora-filho/a/x dos discursos patriarcais, religiosos e culturais que constituem a narrativa hegemónica sobre a maternidade, perspectivando-a, ao invés, como mais um complexo fenómeno de convivência no seio do Holobionte.